quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O VEGETARIANO

Por Francisco de Assis D. Pirola

Carlão dizia-se “avesso” a “essas coisas de espiritismo”. Junto a amigos espíritas, “preferia as suas convicções”, afirmava sempre.
Certa ocasião, dessas em que todos opinam ao mesmo tempo, discutia-se a alimentação dos espíritos. ─ Alimentam-se pela respiração, assimilando princípios vitais da atmosfera ─ dizia um apressado. Outro, ressaltava a “natureza fluídica” dos alimentos. E a conversa ia longe.
Chegado num bom churrasco, Carlão, inconformado, ironizava:
 Quer dizer que “lá em cima” não se come uma boa picanha?
Não, Carlão, espírito não come carne! ouvia da turma, quase em coro.
E o bom glutão, decepcionado, lamuriava-se:
Além de morto, vou “viver” de brisa! Se houver essa “tal vida” de que vocês tanto falam, vai ser difícil!
Não tem jeito, Carlão retrucava um dos amigos uma boa picanha, com gordura e tudo, mal passada, como você gosta... só encarnado. “Lá em cima”, como diz você, nada feito!
Por isso, espírita só faz churrasco com carne magra, regada a suco e refrigerante, ao som de música clássica dizia um brincalhão.
E a roda se desfez. Não o vimos mais, e acabamos por concluir que Carlão se afastara levado por “suas” convicções.
Tempos depois, numa reunião mediúnica, no Centro que o grupo frequentava, um dos amigos, identificou o espírito de Carlão, que ninguém sabia que havia desencarnado. Com naturalidade, iniciou o diálogo, como nos velhos tempos.
E aí, Carlão, como vai você?
O amigo desencarnado informou, então, que ali chegara “pra matar saudades”, e que estava pensando em reencarnar. Mas estava “preocupado”: “só havia conseguido vaga numa família de vegetarianos desabafou,  quase em tom de confidência.
Que bom, Carlão, disse-lhe o amigo dialogador em tom de incentivo e, recordando a conversa sobre o churrasco, ponderou assim você volta longe dos prazeres da carne. E disparou:
Vai topar?
  Claro! respondeu Carlão bem humorado vai que surge uma brecha...
E desapareceu, sem dar chance a qualquer outra insinuação.🔵
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Imagem: www.google.com. Acesso: 30/setembro/2012.
Formatação atualizada em: 05/outubro/2017.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom Francisco! Leve e engraçado. Longe do rigorismo dogmático e embora não pareça abre espaço para reflexões profundas. Jesus falou que não é o que entra pela boca o que nos torna impuros, mas o que sai da boca. Claro que isto se refere às questões morais, mas não significa que devemos descurar da qualidade dos alimentos que ingerimos. Fica a cada um o estabelecimento das melhorias que julgar necessária e mais apropriada a seu sentimento e a sua condição atual.

Anônimo disse...
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