terça-feira, 3 de outubro de 2017

NO CAMINHO DO AMOR

Por Francisco de A. D. Pirola
'...o Amor verdadeiro, indestrutível, que realiza de fato,deve ser uma edificação do Espírito...'
Numa apologia à liberalidade costuma-se dizer que "o importante é ser feliz". Esta é a senha para a banalização da sexualidade, reduzida a simples objeto na sedutora vitrine do culto ao prazer.
Nesse caudal vertiginoso debate-se parte de uma geração que vivendo sob novo paradigma de liberdade tudo considera normal, navegando na inversão de valores com a mesma tranquilidade com que atravessa o deserto das contradições, na ilusão de que tudo é possível, só despertando, muitas vezes, no limiar  do abismo.
Em Forças do Ser, música tema do 32° EMEES/DIJ/FEEES, o compositor André Pirola interroga:
“E o que você fará, amor, / do Amor que Deus deu pra você? / Pra quem você abrirá, amor, a porta do seu ser? / E o que você fará, amor, / do Amor que Deus deu pra você? / Pra quem você abrirá, amor, a porta? / Importa pra você.
E aí, como é que "fica"?
Buscando um parâmetro para o entendimento dessa complexa questão do comportamento humano, procuramos inspiração no Exemplo do Jovem Nazareno, Guia e Modelo da Humanidade, indagando:
- Como procederia Ele diante de um desses apelos sensuais tão “naturais” em nossos dias
e encontramos  um belíssimo texto do Espírito Irmão X, ditado ao médium Chico Xavier, constante do livro “Contos e Apólogos” (3ª Ed. Rio de Janeiro. FEB. 1974. Lição nº 18. p. 81 a 83).
Na lição, que reproduzimos a seguir, o autor nos conduz a profunda reflexão, mostrando, ao mesmo tempo, a rapidez com que se esvaem, e como são passageiras, as ilusões a que nos aferramos em meio à transitoriedade da vida física, sem nos darmos conta de que o Amor verdadeiro, indestrutível, que realiza de fato, deve ser uma edificação  do Espírito.
Vamos, então, ao texto:

NO CAMINHO DO AMOR

Em Jerusalém, nos arredores do Templo, adornada mulher encontrou um nazareno, de olhos fascinantes e lúcidos, de cabelos delicados e melancólico sorriso, e fixou-o estranhamente.
Arrebatada na onda de simpatia a irradiar-se dele, corrigiu as dobras da túnica muito alva, colocou no olhar indizível expressão de doçura e, deixando perceber, nos meneios do corpo frágil, a visível paixão que a possuíra de súbito, abeirou-se do desconhecido e falou, ciciante:
− Jovem, as flores de Séforis encheram-me a ânfora do coração com deliciosos perfumes. Tenho felicidade ao teu dispor, em minha loja de essências finas...
Indicou extensa vila, cercada de rosas, à sombra de arvoredo acolhedor, e ajuntou:
− Inúmeros peregrinos cansados me buscam à procura do repouso que reconforta. Em minha primavera juvenil, encontram o prazer que representa a coroa da vida. E' que o lírio do vale não tem a carícia dos meus braços e a romã saborosa não possui o mel de meus lábios. Vem e vê! Dar-te-ei leito macio, tapetes dourados e vinho capitoso... Acariciar-te-ei a fronte abatida e curar-te-ei o cansaço da viagem longa! Descansarás teus pés em água de nardo e ouvirás, feliz, as harpas e os alaúdes de meu jardim. Tenho a meu serviço músicos e dançarinas, exercitados em palácios ilustres!...
Ante a incompreensível mudez do viajor, tornou, súplice, depois de leve pausa:
− Jovem, por que não respondes? Descobri em teus olhos diferentes chama e assim procedo por amar-te. Tenho sede de afeição que me complete a vida. Atende! Atende!...
Ele parecia não perceber a vibração febril com que semelhantes palavras eram pronunciadas e, notando-lhe a expressão fisionômica indefinível, a vendedora de essências acrescentou um tanto agastada:
− Não virás?
Constrangido por aquele olhar esfogueado, o forasteiro apenas murmurou:
− Agora, não. Depois, no entanto, quem sabe?!...
A mulher, ajaezada de enfeites, sentindo-se desprezada, prorrompeu em sarcasmos e partiu.
🔸

Transcorridos dois anos, quando Jesus levantava paralíticos, ao pé do Tanque de Betesda, venerável anciã pediu-lhe socorro para infeliz criatura, atenazada de sofrimento.
O Mestre seguiu-a, sem hesitar.
Num pardieiro denegrido, um corpo chagado exalava gemidos angustiosos.
A disputada marcadora de aromas ali se encontrava carcomida de úlceras, de pele enegrecida e rosto disforme. Feridas sanguinolentas pontilhavam-lhe a carne, agora semelhante ao esterco da terra. Exceção dos olhos profundos e indagadores, nada mais lhe restava da feminilidade antiga. Era uma sombra leprosa, de que ninguém ousava aproximar.
Fitou o Mestre e reconheceu-o.
Era o mesmo mancebo nazareno, de porte sublime e atraente expressão.
O Cristo estendeu-lhe os braços, tocado de intraduzível ternura e convidou:
− Vem a mim, tu que sofres! Na Casa de Meu Pai, nunca se extingue a esperança.
A interpelada quis recuar, conturbada de assombro, mas não conseguiu mover os próprios dedos, vencida de dor.
O Mestre, porém, transbordando compaixão, prosternou-se fraternal, e conchegou-a, de manso...
A infeliz reuniu todas as forças que lhe sobravam e perguntou, em voz reticenciosa e dorida:
-Tu?... O Messias nazareno?... O Profeta que cura, reanima e alivia?!... Que vieste fazer, junto de mulher tão miserável quanto eu?
Ele, contudo, sorriu benevolente, retrucando apenas:
− Agora, venho satisfazer-te os apelos.
E, recordando-lhe a palavra do primeiro encontro, acentuou, compassivo:
− Descubro em teus olhos diferente chama e assim procedo por amar-te.🔵
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Imagem: www.google.com. Acesso em 24/fevereiro/2012.
Formatação e revisão atualizados em: 03/outubro/2017.

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