sexta-feira, 6 de setembro de 2019

LIÇÕES DA OBRA DE YVONNE DE A. PEREIRA

Por Sandra Ventura
“Todo encontro com outro ser humano tem sentido edeve significar algo no plano da criação de Deus.” – Peter Van Der Meer1
Infelizmente não tive oportunidade de conhecê-la pessoalmente, mas pude reconhecer os seus caracteres de nobreza, distinção, fraternidade e humildade pelas obras que psicografou e nos muitos artigos que escreveu, nos quais se vê a observância fiel aos princípios doutrinários, bem como o profundo ascendente moral evangélico presente em toda a sua produção e vivência doutrinária.
Em março de 1984, deixava a Terra a alma redimida de Yvonne do Amaral Pereira.Foram 83 anos bem vividos e destinados à renovação de si mesma, tendo como principal ferramenta a dor das provas e das expiações a que se submeteu resignada e confiante.
Espírito lúcido, soube como ninguém aproveitar as lições e benesses que somente a Doutrina dos Espíritos lhe poderia dar. Alma peregrina do pecado, transitou de dramas terríveis à plena redenção de seus sentimentos de mulher, filha, amiga e irmã, dedicando-se com respeito e honradez aos inúmeros companheiros que puderam compartilhar da sua presença em substanciosas conversas na varanda da casa de sua irmã Amália (com quem morou nos últimos anos de sua vida) ou nos momentos de pregação evangélica a que ela se dedicava (na tribuna humilde ou nas missivas escritas com carinho maternal), ou ainda no colóquio silencioso e feliz com os seus queridos amigos do espaço. Que lições valiosas lhe fluíam da pena, sob a influência suave do venerável Bezerra de Menezes, quando este, cercando-a com os cuidados de pai, lhe dava a oportunidade de reconhecer, Nas telas do infinito, toda a operosidade do amor com que devem conduzir-se aqueles que pretendem servir nas lides dos muitos Dramas da obsessão ou nos graves momentos como a Tragédia de Santa Maria.
Quem poderia prever que sua tragédia passional de ex-suicida no século 19 pudesse se converter em testemunho de fogo, fazendo com que ela mesma voltasse à Terra com a missão de alertar os incautos do caminho sobre os perigos e sofrimentos advindos desse gesto insano, de profunda revolta contra a Lei de Deus.
Camilo Castelo Branco,o notável escritor português, contou-lhe suas Memórias de um suicida e deste trabalho conjunto temos o maior tratado mediúnico dos últimos tempos,na opinião do preclaro Espírito André Luiz.
Com as lembranças de Camilo vieram também as narrativas de Amor e ódio, que o grande Victor Hugo pediu a Charles transcrevesse, buscando no éter as vívidas e traumáticas experiências de um jovem artista, que bem serviriam de exemplo para a juventude, ao encontrar em O livro dos espíritos a explicação e o consolo para os seus martírios. O inesquecível escritor e pregador do Evangelho, o “santo paizinho” da Rússia, como era conhecido Liev Tolstoi, deu sua contribuição preciosa trazendo as histórias do seu povo, das suas terras longínquas, em que exigiu da médium o uso do russo castiço, para as descrições detalhadas do exigente escritor romântico, necessárias ao repasse das suas cartas de moral evangélica, de psicologia profunda donde ressoam a Sublimação dos sentimentos de muitas criaturas, travestidas de personagens, outros trazendo a Ressurreição e vida que só o encontro com o Cristo favorece.
Ainda poderíamos destacar, por muito nos sensibilizarem, as suaves nuances de azul e rosa que a médium percebia envolvendo as cenas do drama Nas voragens do pecado, obra escrita inicialmente pelo Espírito Roberto de Canallejas, seu companheiro de muitos enredos. Roberto, protagonista nesse drama e nas duas outras obras que compõem a já consagrada “Trilogia de Yvonne A. Pereira”, oprimido pelo sofrimento que lhe causava a lembrança do passado, não pôde concluí-las. A tarefa coube ao mentor da médium, o Espírito Charles, que manteve o sabor nostálgico da vida do Cavaleiro de Numiers e o caráter impactante do Drama da Bretanha. Muito se poderia dizer desta trilogia, mas por que nos retermos nos aspectos históricos tão bem caracterizados, a evidenciarem uma de suas notáveis especialidades mediúnicas, se o que mais nos salta aos olhos é justamente a penetração doutrinária em todos os lances, o alcance das lições em cada obra, À luz do consolador?
Estudiosa profunda e grande observadora dos fenômenos mediúnicos, foi Devassando o invisível que ela nos trouxe as suas Recordações da mediunidade – duas obras que são o relato de suas experiências mediúnicas -, as quais vieram a lume sob a orientação de Charles, Bezerra,Inácio Bittencourt e Léon Denis, que lhe determinaram:
Narrarás o que a ti mesma sucedeu, como médium, desde o teu nascimento. Nada mais será necessário. [...]
O grande discípulo de Allan Kardec, Léon Denis, tornou-se amigo presente em momentos cruciais de sua vida, soerguendo-lhe o ânimo diante das muitas dificuldades, até que a expressão máxima do trabalho brilhasse estampada nas obras sobre as quais ela se debruçava com fervor, dificuldades como os 30 anos de espera pela publicação de uma obra, ou ainda ter o seu passado equivocado, em vidas anteriores, exposto em algumas de suas obras,tudo para testar sua humildade e resignação.
A Federação Espírita Brasileira, a Casa Máter do Espiritismo, era considerada por ela como um segundo lar paterno, daí a sua admiração e devoção pela Casa de Ismael durante toda a sua vida, entregando toda a sua obra aos cuidados da FEB. Em 2013, a FEB Editora lançou alguns livros que jaziam esquecidos pelo tempo.Mas, como tudo tem o seu momento, eis que quatro deles são recuperados, todos ostentando o conteúdo e o estilo inconfundíveis, tanto da médium como dos Espíritos que a assistiam.São cartas destinadas à infância e à juventude. São flores colhidas em plena primavera de sentimentos para que o Espírito jovem acolha os ensinamentos do Evangelho sob as bênçãos da Família espírita, com o endosso do Evangelho aos simples, compreendendo As três Revelações da lei de Deus nos muitos Contos amigos que a saudosa médium trouxe das mãos generosas de Bezerra de Menezes, Charles e Liev Tolstoi.
Muito ainda se poderia comentar sobre as 173 obras que Yvonne nos legou, todavia o que mais importa é que a quantidade não tem tanta valia onde a qualidade é inequívoca, onde a fidelidade absoluta a Jesus e a Kardec saltam aos olhos daqueles que têm olhos para ver e que estejam vigiando e orando, já que os tempos são chegados e o joio será atado em molhos para queimar, e o trigo, juntado no celeiro do Senhor. (Mateus, 13:30.)
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1 PEREIRA. Yvonne do A. Um caso de reencarnação – Eu e Roberto de Canallejas.
5. ed. Rio de Janeiro: Associação Editora Espírita F. V. Lorenz,2009.
2 PEREIRA. Yvonne do A. Recordações da mediunidade. 12. ed. 2. imp. Brasília:FEB, 2013. Introdução, p. 8.
3 N.R.: Dessas 17 obras, uma será lançada este mês:
As três revelações da lei de Deus; e a outra, Contos amigos, ainda se encontra no prelo.
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(Texto e imagem disponíveis em: http://www.sistemas.
febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=398.)
Acesso em: 01/março/2014.
Formatação atualizada em: 06/setembro/2019. 

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