"[...] É hora, portanto, de estudarmos, entendermos e apreendermos a lógica divina da Reencarnação [...]"
Em seus princípios básicos, a Doutrina Espírita preconiza a crença no espírito, sua pré-existência ao corpo físico e sua sobrevivência após a morte biológica, ou seja, não deixamos de existir e não perdemos a individualidade. Com o fim da existência corpórea (morte), abre-se para o espírito uma outra dimensão - a vida espiritual - onde essa Individualidade, trabalhando e evoluindo, prossegue a sua caminhada para o Infinito. Portanto, não vai encontrar nem um céu com 'descanso eterno', nem um 'inferno' com um fogo que não cessa de queimar, conceituações quase infantis, aliás, que mostram um deus imperfeito e que não perdoa.
Assim, propomo-nos aqui refletir sobre o Verdadeiro Deus de Amor, Pai Criador, Inteligência Suprema do Universo e Causa Primeira de todas as coisas , e as Suas leis, lançando um olhar especial sobre a Reencarnação - o retorno do espírito ao mundo material, à vida física, em novo corpo e nova personalidade. Crença comum à época de Jesus, Ele mesmo, o Mestre de Nazaré, fez questão de a revelar a Nicodemos, o doutor da lei, que o buscou na calada da noite, corcoveando entre as sombras, para não ser visto na Sua presença. O evangelista João (3:3 a 7) anotou o célebre diálogo:
[...] Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. [...]
Eis aí, portanto, a Reencarnação, que consiste, para o Espírito, em idas e vindas do plano espiritual para o plano físico, animando corpos diferentes, vivenciando formas e personalidades masculinas e femininas, atravessando a linha do tempo de cada uma dessas oportunidades de aprendizado como pais, mães, filhos, avós, irmãos, e assim, contribuindo, para esse grande projeto evolutivo divino chamado família.
O tempo passa...os corpos voltam ao pó da terra... só o espírito vivifica. Em nossa bagagem espiritual prmanecem apenas as conquistas intelectuais e morais, que constituem a nossa verdadeira 'fortuna', os verdadeiros bens que podemos, de fato, acumular. O restante - casas, castelos, carros, dinheiro, poder, status social, etc. -, que tanto fazemos questão de ajuntar, permanece no plano físico. O que é material permanece na matéria. Na dimensão espírito o que importa é a verdadeira essência, o tesouro moral e intelectual, a real personalidade, o que realmente somos no mundo íntimo.
Mas a coisa não é fácil. Mesmo sabendo disso, deixamo-nos aprisionar pelo apego, pela cobiça, pelo desejo e pela posse de coisas e pessoas; atormentamo-nos, construindo o inferno astral de nossos dias, e olvidamos que, ao despertar no outro lado da vida, encontarmo-nos com a realidade eterna. Jesus, o Médico de homens e de almas (Mateus 16:19 e 18:18), já nos alertava sobre isso: "E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus." Em outro momento (Mateus 6:19-21), o Rabi fala do apego aos bens materiais e da verdadeira riqueza: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração."
No grande teatro terreno, na esteira de profícuo aprendizado, representamos muitos papeis: ora pobres; outras vezes ricos, repletos de cultura; em altos postos de comando; recheados de títulos que validam nossa posição social; e, em muitas outras oportunidades, servidores humildes da sociedade, anônimos, afastados do 'brilho social', aprendendo a viver na pobreza, longe dos excessos e do supérfluo, convivendo até com a falta do necessário.
Quanto a isso, é importante anotar que a riqueza e a pobreza fazem parte de um cenário composto pelas desigualdades sociais e são, para nós, campos de prova ou expiação. Já a miséria material, é provocada pelos homens, pela sociedade, que não compartilha o que detém com quem está ao seu lado na experiência terrena. Mudar isso significa vivenciar os preceitos da verdadeira Caridade, dando ao “ter” e ao “deter” uma nova interpretação: a de que somos apenas usufrutuários dos bens divinos. Além disso, compreender o nosso verdadeiro papel na sociedade, para conquista da paz de consciência necessária ao avanço rumo à felicidade.
No entanto, apesar do chamamento milenar, ignoramos as leis divinas e resvalamos para as trilhas escuras do abuso do poder, da corrupção e do crime, ferindo os que estão ao nosso redor, contrariando a lei de amor, justiça e caridade. Sem dúvida, responderemos, por isso, não só pelas lesões de sentimento e mutilações sociais que provocamos, mas também pela morte de muitos sonhos e projetos. E assim, seja qual for a nossa posição social, cultural ou intelectual, estacionaremos, semeando para nós mesmos dias difíceis, regados de lágrimas, que somente secarão se repararmos os erros e refazremos a caminhada. Contudo, isso exige tempo, esforço e dedicação, dado que, ao agir desse modo, trazemos, automaticamente, para junto de nós, a Dor - essa companheira de evolução que sempre aparece para nos lembrar da necessidade de continuarmos no caminho reto e seguro que o Mestre Jesus nos ofereceu.
[...] Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." (João - 14:3 a 6).
É bom lembrarmos de que temos livre-arbítrio para as escolhas que fazemos e para as ações que empreendemos, e que a reação, é determinista e vem na justa medida. Entretanto, nos consola saber que a evolução é uma constante para o espírito. Nunca involuímos. Podemos até estacionar, por não querermos caminhar, mas sempre somos impelidos pelo Amor Divino a prosseguirmos. E é esse Amor Maior que nos proporciona essas tantas oportunidades reencarnatórias, que nos faz paulatinamente avançar.
Na atual escala em que se encontra a nossa Humanidade, cada um de nós vive a sua melhor encarnação. Estamos tendo a chance de vivenciar o prelúdio da Era da Regeneração. Isso deve - ou deveria - calar fundo em nossos corações, ativando - ou reativando - o melhor de nossas forças espirituais no preparo para esses dias melhores, que já estão chegando.
É hora, portanto, de estudarmos, entendermos e apreendermos a lógica divina da Reencarnação.
Espíritos que somos, temos uma vida só, com diversas experiências, e de cada uma dessas experiências devemos reter nada mais que nossas qualidades e virtudes, passaporte seguro para uma vida espiritual plena no seio divino.
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(*) Leonardo Pereira é designer gráfico, orador espírita e trabalhador
do Grupo Espírita Lamartine Palhano Jr. - Vitória-ES.)