Por Leonardo Pereira*
Natal é
recomeço e reestruturação e, sobretudo, renovação.
Nasce o Cristo
de Deus, novamente, em cada coração. Lembrado por muitos, reverenciado por
outros tantos, compreendido por poucos, Jesus prossegue, século a século,
ampliando os horizontes da raça humana (principalmente dos cristãos), em
relação ao seu nascimento, vida, morte e renascimento, mostrando que a continuidade
de seus ensinamentos se sustenta na Verdade infinita do “amar a Deus, ao
próximo e a si mesmo”.
Mais de vinte
séculos, e ainda nos prendemos na necessidade de aparentar o nosso amor a Deus,
mostrar aos outros que temos fé, que somos os filhos eleitos da divindade. Só
que, a cada dia, nos distanciamos do Criador, vivenciando as querelas mundanas
do deter, poder e consumir, demonstrando, com isso, a incompreensão do que
recomendou o Nazareno: “Amar a Deus sobre todas as coisas”. O nosso amor, sem
sombra de duvidas, está mais ligado a coisas e pessoas. Deus, quase sempre, não
aparece nas prioridades do nosso dia a dia.
Por outro
aspecto, com o nosso orgulho, rotulamo-nos com diversas denominações religiosas,
buscando atender aos apelos do ego. Muitas vezes, com nossas consciências
culpadas, tentamos “barganhar” com o Criador a nossa redenção, dizendo-nos seus
filhos, sussurrando pelos cantos da alma que o Pai é maior. Mas vivemos com
medo do autoencontro com essa Consciência Divina, que habita em todos nós,
demarcando, no interior da cada alma, os caminhos que verdadeiramente levam ao
Criador Supremo. Fingimos fidelidade e
sofremos, por não termos a fé, a certeza de que Deus está conosco em todos os
instantes, principalmente nos momentos de dor. Prendemo-nos na forma, não na
essência, transformando o Filho no Pai, trazendo a todo custo o atavismo dos
sacrifícios do passado, colocando Jesus na condição de cordeiro que verte o
sangue para aplacar a “ira” de um “deus”, rogando que tal sacrifício leve e
lave os nossos desenganos.
Jesus, o maior
Espírito que pisou sobre a Terra, “Guia e Modelo da humanidade”, conforme ensinam
os imortais de “O Livro dos Espíritos”, não veio lavar com sangue as máculas da
alma, pois o sangue não limpa as chagas do espírito, a não ser que isso seja
traduzido como renascimento na carne (sangue), quando o espírito, então, tem a
possibilidade de refazer seus caminhos, através de novas experiências, novas
escolhas, nos campos benditos da prova ou da expiação.
Em verdade,
Jesus veio no momento em que a humanidade necessitava avançar nos campos do espírito.
Sua mensagem, portanto, não é para o homem da época: dirige-se ao espírito
imortal, que avança e, enfim, pode compreender o legado do Amor, legado esse que
tem o poder, sim, de acabar com os dramas e tramas relacionados com a mágoa, a
raiva, o ódio e o desamor, responsáveis diretos por nos deixar na retaguarda
evolutiva moral.
Neste momento
do Natalício de Jesus, muitas vezes esquecemos o que realmente
representa o seu nascimento. Nos ocupamos em dar e receber presentes, em festas
diversas, em lautos jantares, e homenagear figuras criadas pelos
marqueteiros de plantão, que nos induzem a consumir em nome de quem sempre nos
ensinou a compartilhar.
Eu presenteio
a quem gosto e gosta de mim; eu me reúno com os meus próximos, principalmente
se “estes” são meus afetos, concordam comigo, ou estão na mesma classe social.
Por mais que
estejamos aprendendo a amar na convivência familiar, não conseguimos ainda lançar
o nosso olhar para além da barreira do conforto, observando que também o
próximo se representa na figura do mais necessitado, e que na maioria das vezes
nossas necessidades não são ganhar “coisas”.
Dar e receber:
eis aí o maior dos presentes, já que é em nome de Jesus ou em sua homenagem, doação essa que pode ser resumida em algumas palavras, como: afeto, carinho, atenção,
cuidado, perdão, solidariedade, justiça, caridade.
Exercitando cada uma dessas
ações, nos encontraremos, de fato, amando o próximo como recomenda o Divino Amigo.
Entretanto, se
amar o próximo não é tarefa das mais fáceis, imagine a recomendação de amar o
inimigo? Parece tão distante de nós, que acreditamos muitas vezes como
impossível de se praticar. Mas, pasmem, é possível! Jesus veio e viveu esse
ensinamento. Depois, muitos outros seguiram esse preceito divino, amando sem
distinção.
Amar o inimigo
é igualmente um verdadeiro presente de Natal em nossas vidas. Podemos começar
por não desejar o mal, não manter a mágoa, não revidar as ofensas. E, com toda a
certeza, a cada ano, mês, hora, minuto, segundo, aprenderemos a perdoar,
exercitando o amor em suas múltiplas faces.
Mas um
questionamento ecoa na minha alma neste momento. E eu o repasso a você, que lê
estas breves linhas: como posso falar de amor a Deus, ao próximo, a meu
inimigo, se ainda não me amo?
É, caro peregrino (a)! A nossa estrada precisa ser pavimentada pelos ensinos de Jesus.
Só assim compreenderemos que, se esse amor não começar por nós mesmos, não
conseguiremos amar de verdade. Primeiro, eu preciso me amar, me aceitar como
estou, gostar do que sou, parar de me culpar por não ser perfeito e trabalhar
em prol da minha renovação.
No entanto, o autoamor, mesmo sendo tarefa urgente,
não pode ser apressado. Não se consegue em “10 lições”. Começa de dentro para
fora, na conquista da autoestima, valorizando o nosso momento reencarnatório,
nossas famílias, nossa comunidade, nossas casas espíritas, nossa vida, enfim.
Quando eu me amar, amarei com certeza o outro, por compreender que estamos na
mesma caminhada evolutiva. Amando a mim e
ao próximo, amarei também o inimigo do passado, que se
tornará amigo, e aí sim, estarei na condição de amar a Deus, agora sobre todas
as coisas. Isso é Natal. Natal com Jesus!
Que o Cristo
de Deus renasça mais uma vez em nossos corações, pois Ele, acima de qualquer
uma de nossas experiências, vive e permanece conosco!
* * *
(*)Leonardo Pereira é orador espírita e presidente do Grupo Espírita
Lamartine Palhano Júnior, situado no Bairro Goiabeiras-Vitória-ES.
Imagem:www.google.com. Acesso em:23/dezembro/2013.
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