O romance Herculânum tem como enredo o
ambiente familiar e o círculo de amizades do patrício romano Cáius Lucílius, na
cidade de Herculânum. O pano de fundo é a erupção do Vesúvio, no ano 79 d.C.,
que sepultou a referida cidade e Pompeia.
Como sobrevivente da tragédia, o
mencionado personagem perambula na região de Nápoles e vem a ser acolhido por
um eremita. Após superar o cansaço e a fraqueza, quando recobrou a consciência,
iniciou um diálogo com seu benfeitor – que se identificou como “pai” João e
seguidor do Cristo. Na ocasião, Cáius Lucílius confirmou que já havia recebido
algumas informações superficiais sobre a nova “seita” da Judeia. Com o tempo, o
eremita revelaria sua verdadeira identidade: o Centurião Quirílius Cornélius –
que manteve contatos diretos com o Cristo, contando trechos de sua vida,
inclusive que teria conhecido o avô de Cáius, à época comandante de uma legião
nas Gálias.
Cáius então comenta que, pela primeira
vez em sua vida, sentia-se só e abandonado. No diálogo, “pai” João lhe revelou
que foi cristão dos primeiros tempos e que, àquela época, fora incumbido pelo
seu comandante para realizar “um trabalho secreto”,1 dirigindo-se a ele nestes
termos:
[...] o teu conhecimento da língua
popular tornará mais fácil: parece que há mais de dois anos um homem de Nazaré,
chamado Jesus, anda a percorrer em todos os sentidos a Galileia e as províncias
limítrofes, pregando uma nova doutrina, curando enfermos e fazendo outros
milagres. Nada disso me interessa nem me preocuparia, se não houvesse recebido
do Sumo Pontífice um aviso secreto, que denuncia nesse homem propósitos
políticos, por isso que se inculca descendente de antigos monarcas e pretende
ser aclamado rei de Israel. [...]1
Atendendo às orientações de seu
comandante, o centurião Cornélius se disfarça e se infiltra no meio do povo que
seguia o Cristo. Em pouco tempo, ele reconheceu que se tratava de “uma
personalidade única, a irradiar um encanto e um fascínio irresistível”.1 Quirílius
Cornélius, profundamente impressionado com as pregações do Cristo, ficou
intrigado:
[...] de como pudesse uma tal criatura
ser considerada perigosa, de vez que o desprendimento por ele predicado só
poderia tornar os homens desambiciosos e humildes.1
Passado algum tempo, o centurião
Cornélius, em Jerusalém, soube que o Cristo estaria sendo julgado. Inconformado
perguntou:
– E foi condenado o inocente? Como pôde
Pilatos sancionar uma tal iniquidade?1
Chegando ao local dos infaustos
acontecimentos, prossegue relatando:
[...] o preso foi confiado à minha
guarda, até o instante em que devia partir, com dois outros condenados, para o
lugar do suplício. [...] Fingindo rigorosa vigilância, postei-me à porta do
compartimento [...]. Foi então que vi Jesus ajoelhado [...].1
Há diálogos entre o centurião e o
Cristo. O autor espiritual identificou encarnações subsequentes do nobre
soldado romano. Mas o importante foi sua efetiva conversão ao Cristianismo:
[...] pude compreender que, em tornar-me
cristão, iria adquirir um grande benefício, qual o de aliviar os derradeiros
momentos da vida terrena [...]2
No final do romance, há informações
espirituais oportunas, relacionadas com os momentos da atualidade:
[...] “Baixai, misturai-vos com os
vossos irmãos encarnados, provai-lhes a sobrevivência, a imortalidade, a cadeia
engendrada pelo mal e poupai-lhe, dessarte, um demorado arrependimento mediante
tremendas expiações.” A essa palavra de ordem, falanges se abalarão do
Invisível e a Terra se coalhará de missionários obscuros, que, por suas
faculdades, permitirão aos desencarnados manifestarem-se aos homens,
deixando-se controlar de todos os modos. E, então, uma luta encarniçada se
empenhará entre o cepticismo presunçoso e a verdade que não mais poderá ser
abafada.
“Deveis visualizar, desde já, essa época
de grandes lutas intelectuais, preparando-vos para atravessá-la em etapas
sucessivas. Se, a esse tempo, tiverdes adquirido a força para o bom combate, ou
seja, o domínio das próprias paixões, a fim de corresponder ao ataque do
adversário, que não mais vos queimará o corpo mas há-de ulcerar-vos a alma –
grande será a vossa recompensa e podereis, quem sabe, deixar este calabouço da
Terra para ascenderdes a uma esfera melhor. Sonhai com esse futuro, caros
irmãos atônitos, e trabalhai, pois áspero será o embate e… – ai de vós –
‘muitos serão os chamados e poucos os escolhidos’.”2
Fato histórico e curioso ocorreu com o
tradutor de Herculânum, o ex-presidente da FEB, Manuel Quintão,3 ao vi
sitar Chico Xavier na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG), quando eram lidos
trechos do romance, tradução de 1937. Eis o relato de Quintão:
[...] vamos transcrever a curiosa
mensagem que o anfitrião recolhera num dos seus serões íntimos, quando lia e
comentava Herculanum, o precioso romance mediúnico do Conde Rochester, por nós
traduzido. Neste comunicado, há dois pontos importantes a considerar: o
primeiro, é que não se trata de uma obra de ficção, qual se poderia presumir, e
o segundo, é que Emmanuel, este luminar da Espiritualidade renovadora dos
nossos tempos, promete-nos para breve o romance da sua própria vida na Terra,
ao tempo de Jesus, quando se chamou Publius Lentulus, altaneiro patrício
romano.4
Emmanuel escreve significativa mensagem
corroborando informações de Herculânum e anuncia:
“Algum dia, se Deus mo permitir,
falar-vos-ei do orgulhoso patrício Publius Lentulus, a fim de algo aprenderdes
nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata”.5
Trechos desta mensagem, obtida no dia 7
de setembro de 1938, foram introduzidos na apresentação de Há dois mil anos.
O senador Publius Lentulus desencarnou
em Pompeia durante a mesma erupção vulcânica. E no final do romance Há dois mil
anos há assertivas espirituais coerentes com as de Rochester:
Numerosas legiões de seres espirituais
volitaram, por vários dias, nos céus caliginosos e tristes de Pompeia.
Ao cabo de longas perturbações, Publius
Lentulus e os filhos despertaram, ali mesmo, sobre o túmulo nevoento da cidade
morta. [...]
Contudo, após as primeiras lamentações,
ouviu uma voz cariciosa que lhe dizia brandamente:
– Publius, meu amigo, não apeles mais
para os recursos do planeta terreno, porque todos os teus poderes terminaram
com os teus despojos, na face escura e triste da Terra! Apela para Deus
Todo-Poderoso, cuja misericórdia e sabedoria nos são dadas pelo amor do seu
Cordeiro, que é Jesus Cristo!… 6
Emmanuel referenda o citado romance de
Rochester e as duas obras Há dois mil anos e Herculânum expõem nuances de
mesmos grupos de Espíritos e de outros, embora diferentes, se completam…
O importante é que passados quase dois
milênios, nos encontramos no momento [...] em que se efetuará a aferição de
todos os valores terrestres para o ressurgimento das energias criadoras de um
mundo novo [...].7
E na época anunciada: “Porque muitos são
chamados, mas poucos, escolhidos”. (Mateus, 22:14.)
REFERÊNCIAS:
1 KRIJANOWSKY, W. Herculânum. Pelo
Espírito Conde J. W. Rochester. Trad. Manuel Quintão. 11. ed. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2011. pt. 2, cap. O eremita, p. 187, 188, 190 e 191,
respectivamente.
2 ____. ____. Epílogo – As sombras
da cidade morta, p. 342 e 344.
3 CARVALHO, Antonio Cesar Perri de.
Quintão introduziu Chico Xavier na FEB. Reformador. ano 132, n. 2.222, p.
5(259)-8(262), mai. 2014.
4 QUINTÃO, Manuel. Romaria da
graça. Rio de Janeiro: FEB, 1939. p. 20-21.
5 XAVIER, Francisco C. Há dois mil
anos. Pelo Espírito Emmanuel. 49. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2014. Na
intimidade de Emmanuel – Ao leitor, p. 7.
6 ____. ____. cap. 10, Nos
derradeiros minutos de Pompeia, p. 348.
7 ____. A caminho da luz. Pelo
Espírito Emmanuel. 38. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Introdução, p. 9.
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Texto: disponível em:http://www.souleitorespirita.com.br/
reformador/noticias/o-centuriao-e-o-cristo.Acesso em: 29/dezembro/2014.
Imagem: www.google.com. Acesso em: 29/dezembro/2014.